Nota: Depois de ter sobrevivido a quantidade de argumentos sem
conteúdo que caracterizou a eleição no Brasil, achei melhor
traduzir ao menos esse e os próximos posts. Há sempre uma pequena
esperança de que alguém leia, se identifique e aprenda algo. Segue
a tradução do último post, que é a primeira parte do que vou
escrever sobre o tópico:
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Nós somos capazes de criar coisas incríveis, seja nas Ciências,
em Tecnologia, ou como Arte. Nós fomos mais longe que qualquer outro
ser vivo no nosso planeta e a escala de nossas conquistar não tem
rival. No entanto, como temos visto, nossa capacidade de raciocinar,
ainda que bem adaptada para o meio ambiente onde nossos ancestrais
viveram, tem falhas graves e, ainda que sejamos capazes de realizar
muito mais quando muitos de nós se juntam para isso, comunidades
também são capazes de criar novos tipos de problemas quando
tentamos descobrir a verdade.
Isso sugere a pegunta: por que somos exatamente
como somos? Regras lógicas não são realmente complicadas e
poderiam existir dentro dos nossos cérebros com um baixíssimo
custo. Por outro lado, a Lógica Clássica (que discutirei em
entradas futuras) assume que algumas afirmações sejam verdadeiras
e, no mundo real, nós simplesmente não podemos assumir de início
que certas premissas sejam a verdade. Dessa forma, é possível que a
Lógica não tem sido facilmente aplicável nas circunstâncias de
nossos antepassados. Ainda assim, resta o problema
de quais forças teriam guiado a evolução de nosso intelecto até o
ponto atual.
Hugo
Mercier e Dan Sperber propuseram recentemente uma ideia que
parece capturar ao menos um aspecto essencial da resposta. Eles
observaram que nossas habilidades
mentais e verbais, o que dizemos uns aos outros, não evolui para a
procura da verdade. Eles sugeriram que, sendo seres sociais, nosso
raciocínio evoluiu num ambiente em que, se os demais acreditassem em
você, você teria mais poder e uma melhor chance de se reproduzir.
Isso teria significado uma pressão
evolutiva no sentido de sermos capazes de argumentar e convencer os
demais, independentemente de nosso ponto de vista estar correto. Sua
Teoria Argumentativa do Raciocínio (Argumentative Theory of
Reasoning) afirma que nosso raciocínio existe com o propósito de
nos tornar competentes em debater e convencer. O que é
frequentemente bastante diferente de se chegar à resposta correta.
De fato, Mercier observou que a ideia de que
raciocinamos para tornar nossos argumentos convincentes (argumentos
que podem ou não ser verdadeiros) para se aplicar também a
crianças
e a outras
culturas. Isso não quer dizer que não sejamos capazes de
utilizar nossos intelectos na busca de soluções corretas para os
problemas que encontrarmos. Quando comparamos, em uma entrada
anterior, nossas habilidades
de resolver os problemas lógicos formamelmente idênticos das cartas
e do consumo de álcool, vimos que, nas situações que são
familiares, nós éramos capazes
de raciocinar de forma competente. Achar respostas melhores pode
também ter contribuído para moldar nosso raciocínio. Mas a
evidência de que boa parte dele evoluiu apenas para nos permitir
convencer os demais é bastante convincente.
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